Os 40 anos de Jornada
nas Estrelas chegaram, e parece que foi ontem que tudo come�ou. Quatro d�cadas,
cinco s�ries de TV e dez filmes de cinema depois, � f�cil
constatar o quanto Jornada nas Estrelas
esteve e est� presente no nosso mundo, das mais variadas formas. Tamb�m � interessante
perceber que apesar do momento de incerteza em rela��o ao futuro da franquia,
no que diz respeito a sua capacidade de ser ainda uma fonte expressiva de divisas,
ela ainda agita o imagin�rio coletivo de milh�es de pessoas em volta do globo,
e � ao mesmo tempo sintom�tico que a S�rie Cl�ssica continue sendo ainda objeto
de estudo, an�lises, devo��o e arrecada��o.
Sinais claros disto s�o o sucesso da venda dos DVDs das temporadas cl�ssicas, o aumento significativo do interesse
pela finada Enterprise em seu quarto ano, onde seus temas passaram a ser
fortemente baseados na mitologia original, e a decis�o em favor de um novo projeto
cinematogr�fico que ser�, ao que tudo indica at� o momento, baseado nesta mesma
mitologia.
Seguindo
a onda, ou motivada por ela, a CBS Paramount Domestic Television resolveu investir em um banho
de loja em alguns segmentos da Série
Cl�ssica, sendo o primeiro deles, o celebre "Balance
of Terror". O segmento j� foi visitado diretamente pelo TB
em duas oportunidades, sendo a primeira delas no nosso guia de epis�dios, analisado por Salvador
Nogueira, e em 2002, quando se discutia a ent�o poss�vel apari��o dos Romulanos
em Enterprise.�Surfando a mesma onda, o Trek Brasilis tamb�m revisita o segmento cl�ssico.
The Beginning
N�o � novidade para ningu�m que o cen�rio de Jornada nas Estrelas (entre outras s�ries
sci-fi) � fortemente baseado na tradi��o naval. N�o s� no que se diz respeito
a rankings e patentes, em sua hierarquia como um todo, mas
na forma como suas naves estelares se comportam em tela, se movendo atrav�s do
espa�o como se este fosse um infinito oceano. Para o bem do p�blico em geral,
o universo virou um grande mar pelo qual viajam nossas galantes naves estelares.
Da
mesma forma, qualquer um que j� tenha assistido �Balance of Terror�
j� deve ter percebido que o segmento � orientado como uma persegui��o, ou um enfrentamento
entre um navio de superf�cie (a USS Enterprise) e um submarino (a Warbird romulana).
O espectador mais atento ir� perceber que o comportamento da Enterprise tamb�m
� mostrado de forma �nica aqui, como veremos mais tarde, de forma a se adaptar
a esta proposta.
� tamb�m dito e sabido por muitos que este epis�dio � fortemente
influenciado por dois filmes da d�cada de 50, "The Enemy Below" (1957)
e "Run Silent, Run Deep" (1958). Nossa proposta aqui � conversar sobre
este dois filmes, e discutir suas similaridades com o epis�dio em quest�o. Sendo
assim, mergulhemos. Dive, dive, dive !!!

"Run Silent, Run
Deep�
Usando o Guardi�o da Eternidade, voltemos no tempo, para o
ano de 1958, onde faremos nossa primeira corrida silenciosa. Produzido pela MGM,
e conhecido no Brasil como �O Mar � Nosso
T�mulo�, "Run Silent, Run Deep� � baseado em uma novela de Edward L. Beach,
estrelado por Clark Gable (�Gone with the Wind�,
1939 ou �E o Vento Levou� em terras tupiniquins) e Burt Lancaster (�From Here
to Eternity�, 1953 � �A Um Passo da
Eternidade�) e dirigido por ningu�m mais, ningu�m menos que Robert Wise (Jornada
nas Estrelas � O Filme - 1979).
O autor, Edward L. Beach (1918 � 2002), foi oficial da marinha
durante a 2º Guerra Mundial, servindo a bordo de submarinos, onde chegou
ao comando do USS� Piper ainda durante o conflito. �
f�cil presumir que foi da� que Beach retirou a experi�ncia e o conhecimento necess�rio
para escrever sua primeira hist�ria. No campo da fic��o, ele escreveria duas seq��ncias
da historia original, �Dust on the Sea� (1972) e �Cold
is the Sea� (1978), al�m de diversos livros sobre história naval.
O Filme
Um ano ap�s ter o seu submarino afundado por um destr�ier japon�s
numa �rea conhecida como Bungo Straits, o comandante Rich Richardson (Clark Gable)
assume o comando do submarino americano USS Nerka, que est� voltando de uma miss�o.
A bordo do Nerka est� o comandante Jim Bledsoe (Burt Lancaster), que esperava
receber o comando definitivo da embarca��o, e recebe a nova ordem com frustra��o.
Bledsoe chega a requisitar a sua transfer�ncia, mas o pedido
� negado por Richardson, e segue como primeiro oficial do Nerka. O barco retorna
ao mar, com ordens de patrulhar a ��rea 7�, a qual pertence Bungo Straits,
mas evitar especificamente este local, pois a marinha tem perdido v�rios barcos
neste local, sendo todas estas perdas atribu�das ao Destr�ier que afundou o barco
anterior de Richardson, o Akikaze.
Em curso, Richardson comanda uma s�rie exaustiva de exerc�cios
com o objetivo de aumentar o tempo de resposta da tripula��o, e evita um confronto com um submarino japon�s, fatos que deixam
os tripulantes do Nerka apreensivos a respeito de seu novo capit�o. Em dado momento,
o submarino avista um comboio japon�s, protegido por um destr�ier. Richardson
ordena o ataque, que tem sucesso em destruir um navio tanque e o destr�ier que
protegia o comboio, gra�as � per�cia adquirida atrav�s dos exerc�cios de simula��o
de batalha. Com base nisto, Richardson decide ca�ar o Akikaze, contrariando as
ordens iniciais e com a desaprova��o explicita de Bledsoe.
O Nerka localiza o Akikaze, e inicia o ataque, mas um elemento
inesperado, a cobertura a�rea japonesa, faz com o que o ataque se transforme em
um fiasco. O submarino escapa com danos extensos e tr�s tripulantes s�o mortos
e o pr�prio Richardson � seriamente ferido durante a malfadada opera��o. Mesmo
ap�s estes eventos, o capit�o insiste em realizar os reparos e continuar a ca�ada
ao Akikaze, mas Bledsoe toma o comando e ordena o retorno a Pearl Harbor.
Com os reparos finalizados, o Nerka est� se preparando para
iniciar a viagem de volta, quando um programa de r�dio japon�s informa o afundamento
do Nerka, dando inclusive o nome de alguns tripulantes, entre eles, seus oficiais
superiores. Bledsoe percebe que os japoneses acreditam ter afundado o submarino,
e isto lhes d� uma vantagem contra o Akikaze desta vez. O Nerka parte para confrontar
o navio japon�s novamente.� Bledsoe usa a mesma t�tica imaginada por Richardson,
e desta vez tem sucesso em afundar o destr�ier, entretanto, eles agora descobrem
a presen�a de um submarino japon�s que parte para confront�-los. O Nerka evita
um ataque de torpedos, mas est� incapaz de detectar o submarino inimigo.
Com Richardson de volta � ponte, junto com Bledsoe, eles decidem
emergir e atacar o que restou do comboio japon�s, for�ando o submarino inimigo
a se expor para tentar defender a frota. A estrat�gia d� certo e o Nerka localiza
e destr�i o submarino japon�s na superf�cie, e retorna a Pearl Harbor em seguran�a,
menos Richardson, que morre em decorr�ncia dos ferimentos do primeiro ataque.

A Conex�o
Apesar de várias vezes ser citado como inspira��o para
o episodio da S�rie Classica, "Run
Silent, Run Deep" tem pouco a ver com �Balance of Terror�.
Tanto em termos de a��o, como de constru��o de personagens, s�o duas historias
totalmente distintas, e pelo menos para o autor deste artigo, n�o se justifica
a compara��o t�o forte com o segmento cl�ssico, mas existem
momentos que valem a pena ser destacados.
Um deles � realmente de f�cil identifica��o com um momento
do segmento da S�rie Cl�ssica. Em dado
momento, quando Nerka est� sob ataque de cargas de profundidade, Richardson ordena
que os corpos dos tripulantes mortos sejam lan�ados ao mar, junto com destro�os,
numa tentativa de iludir os atacantes. Tal a��o remete diretamente a ordem do
comandante romulano interpretado pelo saudoso Mark Lenard, de lan�ar o corpo de
seu amigo, morto durante um dos ataques da Enterprise � ave de rapina.
Outro momento acontece logo depois que o Nerka descobre existir
um submarino japon�s na �rea dando prote��o ao comboio, e que inicia uma breve
ca�ada ao submarino americano. Entretanto, as cenas que se seguem remetem muito
mais a famosa briga de foice entre a Reliant e a Enterprise, em �A Ira de Khan�.
Em ambos os filmes, as duas �embarca��es� envolvidas tentam localizar uma a outra
num v�o cego, onde prevalece a melhor estrat�gia (�Run Silent�) ou maior experi�ncia (�A Ira de Khan�).
Por �ltimo, existe ainda uma seq��ncia que pode ser considerada
como �inspiradora� do epis�dio cl�ssico. Ap�s a breve escaramu�a submersa, ambos
os submarinos v�o � superf�cie novamente. O Nerka inicia um ataque ao que restou
do comboio japon�s, tentando com isto expor o submarino inimigo que se ver� obrigado
a defender os navios. Ao perceber o ataque, o submarino inimigo tenta se manter
entre um dos navios e o Nerka. A manobra de certa maneira lembra a
tentativa da Ave de Guerra Romulana e tamb�m da Enterprise de usarem a prote��o
causada por um cometa para tentar surpreender um ao outro.
No contexto dos personagens, existe uma tens�o latente entre
Bledsoe, preocupado com sua tripula��o, e Richardson, obcecado pelo destr�ier
que teria afundado seu antigo submarino. Em Balance, esta tens�o est� presente
na rela��o Styles � Spock, embora por motivos diferentes. Apesar disto, a mec�nica
envolvida � a mesma. Em "Balance",
Styles quer que Kirk ataque a ave de guerra Romulana de qualquer forma, enquanto
Spock, inicialmente reluta, at� se convencer de que tal a��o � necess�ria.
Em Run Silent, Richardson
est� decidido a perseguir e atacar o Akikaze, e Bledsoe relutante, entretanto,
com o desenrolar dos acontecimentos, Bledsoe se convence de que pode ter sucesso
e ele pr�prio conduz o ataque aos japoneses. Em ambos os casos, tal tens�o se
dissipa at� n�o existir mais ao fim de ambos os filmes. �Fora isto, o que n�o � pouco, mas � meramente
circunstancial, �Balance
of Terror� e �Run Silent, Run deep� s�o epis�dios totalmente
diferentes no seu restante, e as semelhan�as, embora importantes, apenas confirmam
as suas diferen�as.

Para quem gosta de um bom filme de Guerra, em preto e branco,
e � f� dos mitos cinematogr�ficos, este filme � uma boa pedida, e at� poderia
ser considerado uma boa inspira��o para �Balance of Terror�,
se n�o existisse um outro filme chamado �The
Enemy Below�.
Continua aqui!